sábado, 21 de março de 2009

Morena amarela


Tem dias que o amor cresce mais rápido, quebra o ritmo e voa, independente de frio, calor ou do mormaço de Salvador. Hoje é um dia desses.
À minha morena amarela.

"É, morena, tá tudo bem
Sereno é quem tem
A paz de estar em par com Deus
Pode rir agora
Que o fio da maldade se enrola

Pra nós, todo o amor do mundo
Pra eles, o outro lado
Eu digo mal me quer
Ninguém escapa o peso de viver assim
Ser assim, eu não
Prefiro assim com você
Juntinho, sem caber de imaginar
Até o fim raiar" Marcelo Camelo

quarta-feira, 11 de março de 2009

Cegos e lúcidos.


“Se puder olhar, vê.” “O pior cego é aquele que não quer enxergar.” “ ...cegueira inexplicável.” “...não cegamos, penso que estamos cegos...cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem.”

– Mais rápido?
– Sim, mais rápido, estamos atrasadas!
– Não, não, espera um pouco, não me dei conta de tudo.
– Mão não há tempo suficiente, nem o necessário.
– Deixe-me pensar um pouco sobre o que estão noticiando no telejornal.
– O que se passa?
– Chichiiii!!! Quero ouvir!!!
– “Hoje, fazem 63 anos que a segunda guerra mundial se findou.”
– Aff...grande novidade...
– Hum... sabe o que me vem a cabeça quando penso sobre os acontecimentos históricos, como guerras, quedas de Estados, apogeus de impérios e eras de nobreza e grandes heróis: afinal, o que e como pensavam os homens “comuns” daqueles tempos? O plebeu, o operário, o escravo, o artesão. Está bem, vou ampliar o meu questionamento a todos os públicos, o que é percebido pelas pessoas que vivem um determinado presente?
– Já vem você com perguntas “filosoficamente” complicadas.
– Será que os alemães hitleristas não enxergavam o genocídio de judeus, gays, ciganos, deficientes como uma atrocidade humana, cujos protagonistas eram eles mesmos?
– É fato que eles acreditavam em alguma idéia. Acreditavam que podiam fazer o bem, ainda que fosse só para si mesmos. Decerto que tanta maldade não justifica os ideias de prosperidade do povo alemão.
– Sabe, o que mais me choca é que o objetivo é sempre o bem, o melhor, ainda que seja por interesses particulares. Daí, só posso constatar que não enxergamos a totalidade, mas o que está dentro de parâmetros específicos de cada um, como a condição de classe, os interesses pessoais, as doutrinas que optamos seguir, são esses alguns dos nossos limites. O que concluo é que vivemos divididos com o paradigma da lucidez e da cegueira. Calma, tenho um tempo, vou lhes falar mais sobre isso. É claro que lucidez e cegueira aportam referenciais, e já que concebo ambas dessa forma, então o meu referencial é a vida, o homem na sociedade.
Estamos cegos quando admitmos a miséria quase generalizada dos nossos semelhantes, quando toleramos as grande guerras mundiais ou as guerrilhas atômicas de hoje, nos centros urbanos. São guerrilhas que têm combatentes fiéis – prováveis gênios da ciencia, artistas ou brilhantes escritores – que arriscam suas vidas, sobrevivendo ao esquecimento governamental, social e individual, dos seus irmãos. A cegueira não pára por aí, ela se manifesta nos variados ambientes, seja público, seja privado. No primeiro, pode ser interpretada como corrupção, no segundo, egoísmo ou egocentrismo, já que a ideologia do “meu” e “seu” pegou geral.
Em contrapartida, nem tudo é escuridão ou clarão, a lucidez, leia-se boa visão real e sensitiva, é praticada por aí. Há seres humanos que escolheram, ou foram sorteados, por enxergar e aprimorar essa habilidade. Não estou falando dos extremados, dos radicais, aqueles que se intitulam de “não homens do mundo” ou dos que acham que no binômio homem-planeta terra não pode existir uma relação salutar, ou seja, o ser humano é um agente co-destruidor e auto-destrutivo. É dos ativistas que me refiro. Das pessoas que transformam a dor e, em muitas situações, a incompreesão do desrespeito instalado, da predominância do egocentrismo como a panacéia pessoal, em solidariedade e sensibilidade. Enxergou essas palavras? Deixe-me oferecer alguns exemplos, afinal solidariedade e sensibilidade abrangem também inúmeros referenciais.
Falo da simples opção por não se velimpendiar por não está na moda ou no “peso ideal”, já que o importante é está feliz e confortável, respeitando e aprendendo a lhe dar com os seus limites. Outrossím, falo da necessidade, perseguida diariamente por esses ativistas, de tentar estar em equilíbrio, mexendo aqui e ali para melhor adequar-se no que tanto falamos, a paz, a cordialidade, a aceitação do que não é o mais repetido, o diferente.
Então, tem gente que enxerga. Não tudo, pois os seres humanos não enxergam o seu presente com tanta nitidez, afinal, algumas cotigências só ganham materialidade com o passar dos tempos. Sem esquecer que a passionalidade influencia constantemente na visão dos homens. Os que enxergam estão em toda parte, alguns tentam ser um pouco ativistas, porém, há os que escolhem permanecer no conforto letárgico da cegueira. Todo mundo é um pouco cego e lúcido. Agora, o que diferencia mesmo um do outro é a atitude, e eu volto ao ativismo. É ele que nos faz um pouco mais diligentes com o que fazemos e com o que queremos estar incluídos, seja na atômica organização familiar e afetiva, seja com os extensos e complicados problemas e questões do mundo – O que fazer do mundo?, Quem somos nós?, Por que fazemos guerra?, Quais são os efeitos de nossas crenças?, O que faremos para respeitar o outro de hoje e de amanhã?, Como promover a paz? .
Já se passaram 63 anos que a segunda guerra mundial acabou, que muitos cegos, apaixonados pelo ideal de uma Alemanha próspera, sucumbiram na desilusão, que muitos lúcidos amargaram em lamentações por não terem feito o suficiente, o possível, para impedir mais um truculento e morticida espetáculo humano. Muitos não viram, muitos viram e nada fizeram, muitos ainda vêem. Será que agora vemos mais? Não, não estou falado somente do passado, é sobre o agora mesmo, é sobre o presente em voga.
- Vumbora, já estamos no limite do atraso.
- Está bem.