domingo, 22 de janeiro de 2012

The constant gardener




Esse livro é essencialmente sobre interesses de uma nação, sobre o quanto eles estão além dos direitos de humanidade, quando se trata do outro e não da nossa nação. Há um tempo eu conversava com uma amiga daqui sobre a mobilização européia face ao caos europeu, com milhares de civis indignados a protestar sobre os efeitos nefastos do capitalismo. Nessa ocasião questionei como os europeus estavam a reivindicar tanto por seus direitos democráticos e de justiça, mas que este ímpeto somente é legítimo para si. O mundo dos direitos humanos é o mundo dos civilizados, os demais, no fundo, continuam a ser bárbaros e mercados consumidores.
O jardineiro fiel é justamente sobre isso.

" Guita permanentemente chocada com tudo e com todo mundo, dos católicos romanos que que se opunham ao controle da natalidade e demonstravam isso queimando camisinhas no Estádio de Nyao, as empresas de cigarros americanas que aumentavam os teores de nicotina  para gerar crianças viciadas; dos senhores da guerra somalis que jogam bombas que explodem em cachos, sobre aldeias indefesas, as indústrias de armas que fabricam essas bombas."


O interessante é que a ótica do Le Carré é justamente lutar pela ética humana por dentro da legitimidade, sendo a personagem Tessa sua representante. Mesmo com a sua morte logo no primeiro capítulo, ela está viva em toda a obra e é pelos seus olhos e ideais que vemos as façanhas encarnadas pela diplomacia inglesa, que têm o objetivo de manter os privilégios comerciais, independente de quantas vidas isso custar, afinal trata-se de seres que morreriam de qualquer maneira, de fome, Aids, tuberculose ou pela violência de seus próprios governantes. Nós descobrimos esse mundo junto com Justim Quayle, o marido de Tessa, que imergi no mundo da sua esposa..

Esta leitura vale a pena também pelo encontro entre Tessa e Justin (seu marido e diplomata inglês), pela simples e ao mesmo tempo complexa relação entre eles, repleta de cumplicidade e maturidade. Devido a belíssima condução de Le Carré o amor entre os protagonistas  foge de uma descrição clichê.
Só um conselho: não assistam o filme antes do livro, porque vocês passarão muita raiva. E olha que a adaptação foi dirigida pelo Fernando Meireles. Eu assisti depois, e foi decepcionante, mesmo com as brilhantes atuações de Ralph Fiennes e Rachel Weisz.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Do aprendizado na prática

E a gente aprende, na prática, que um relacionamento envolve abdicar em favor do bem do outro, enfim, das duas partes. A gente muda de planos, de sonhos, ajusta conceitos, amadurece concepções e reza, e mais uma vez reza, para que as escolhas sejam as certas e que o amor esteja protegido.
Sou um pouco demodê, confesso!, não vivo pra saber amanhã o que a vida vai me ofertar. Não que exclua o improvável, gosto de surpresas e aceito a sua inexorabilidade, mas me debruço para planejar e fazer o amanhã. 
Sou definitivamente uma romântica no século XXI, de verdade, acredito em amor pra vida toda, em família, em valores irrenunciáveis. E deve ser por isso que me desestruturo quando alguma coisa está fora do lugar. Anyway...
Esse papo todo é pra dizer que mudo, mudei e mudarei (não gosto dessa palavra e de sua conjugação, descrobri agora), mas que as concepções que me constituem, que são dignas de me ser tão bela e livre, saltam-me os olhos, exalam dos meus sentidos  e perfazem a mínima expressão que o meu corpo elabora. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Autobiográfico

Dentro de mim mora
Uma musicista,
Uma bailarina,
Uma viajante viajada,
Uma apreciadora da vida, das línguas, do vinho.
Dentro de mim mora
A inquietude,
A mansidão que ora grita, contesta
e que se inunda em frustração quando é calada.  
Dentro de  mim mora
O verbo amar, intensamente,
O exercício de voltar à racionalidade
Um empirismo nato, é nele que compreendo.
Dentro de mim mora
Música e sorriso.