sábado, 25 de julho de 2009

Genialidade


Ele volta e meia exige de mim sensibilidade, racionalidade e humanidade. A genialidade que emputa nos seus escritos me embaraça, faz-me repensar muita coisa, refletir, me embevece. Nesta semana ele me supreendeu mais uma vez com o texto que publico logo abaixo. Sinta-se a vontade.


"Um capítulo para o “Evangelho”Julho 24, 2009 por José Saramago
De mim se há-de dizer que depois da morte de Jesus me arrependi do que chamavam os meus infames pecados de prostituta e me converti em penitente até ao fim da vida, e isso não é verdade. Subiram-me despida aos altares, coberta unicamente pela cabeleira que me desce até aos joelhos, com os seios murchos e a boca desdentada, e se é certo que os anos acabaram por ressequir a lisa tersura da minha pele, isso só sucedeu porque neste mundo nada pode prevalecer contra o tempo, não porque eu tivesse desprezado e ofendido o mesmo corpo que Jesus desejou e possuiu. Quem aquelas falsidades vier a dizer de mim nada sabe de amor. Deixei de ser prostituta no dia em que Jesus entrou na minha casa trazendo-me a ferida do seu pé para que eu a curasse, mas dessas obras humanas a que chamam pecados de luxúria não teria eu que me arrepender se foi como prostituta que o meu amado me conheceu e, tendo provado o meu corpo e sabido de que vivia, não me virou as costas. Quando diante de todos os discípulos Jesus me beijava uma e muitas vezes, eles perguntaram-lhe porque me queria mais a mim que a eles, e Jesus respondeu: “A que se deve que eu não vos queira tanto como a ela?” Eles não souberam que dizer porque nunca seriam capazes de amar Jesus com o mesmo absoluto amor com que eu o amava. Depois de Lázaro ter morrido, o desgosto e a tristeza de Jesus foram tais que, uma noite, debaixo do lençol que tapava a nossa nudez, eu lhe disse: “Não posso alcançar-te onde estás porque te fechaste atrás de uma porta que não é para forças humanas”, e ele disse, queixa e gemido de animal que se escondeu para sofrer: “Ainda que não possas entrar, não te afastes de mim, tem-me sempre estendida a tua mão mesmo quando não puderes ver-me, se não o fizeres esquecer-me-ei da vida, ou ela me esquecerá”. E quando, alguns dias passados, Jesus foi reunir-se com os discípulos, eu, que caminhava a seu lado, disse-lhe: “Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti”, e ele respondeu: “Quero estar onde estiver a minha sombra se lá é que estiverem os teus olhos”. Amávamo-nos e dizíamos palavras como estas, não apenas por serem belas e verdadeiras, se é possível serem uma coisa e outra ao mesmo tempo, mas porque pressentíamos que o tempo das sombras estava a chegar e era preciso que começássemos a acostumar-nos, ainda juntos, à escuridão da ausência definitiva. Vi Jesus ressuscitado e no primeiro momento julguei que aquele homem era o cuidador do jardim onde o túmulo se encontrava, mas hoje sei que não o verei nunca dos altares onde me puseram, por mais altos que eles sejam, por mais perto do céu que alcancem, por mais adornados de flores e olorosos de perfumes. A morte não foi o que nos separou, separou-nos para todo o sempre a eternidade. Naquele tempo, abraçados um ao outro, unidas pelo espírito e pela carne as nossas bocas, nem Jesus era então o que dele se proclamava, nem eu era o que de mim se escarnecia. Jesus, comigo, não foi o Filho de Deus, e eu, com ele, não fui a prostituta Maria de Magdala, fomos unicamente aquele homem e esta mulher, ambos estremecidos de amor e a quem o mundo rodeava como um abutre babado de sangue. Disseram alguns que Jesus havia expulsado sete demónios das minha entranhas, mas também isso não é verdade. O que Jesus fez, sim, foi despertar os sete anjos que dentro da minha alma dormiam à espera que ele me viesse pedir socorro: “Ajuda-me”. Foram os anjos que lhe curaram o pé, eles foram os que me guiaram as mãos trementes e limparam o pus da ferida, foram os que me puseram nos lábios a pergunta sem a qual Jesus não poderia ajudar-me a mim: “Sabes quem eu sou, o que faço, de que vivo”, e ele respondeu: “Sei”, “Não tiveste que olhar e ficaste a saber tudo”, disse eu, e ele respondeu: “Não sei nada”, e eu insisti: “Que sou prostituta”, “Isso sei”, “Que me deito com homens por dinheiro”, “Sim”, “Então sabes tudo de mim” e ele, com voz tranquila, como a lisa superfície de um lago murmurando, disse: “Sei só isso”. Então, eu ainda ignorava que ele fosse o filho de Deus, nem sequer imaginava que Deus quisesse ter um filho, mas, nesse instante, com a luz deslumbrante do entendimento pelo espírito, percebi que somente um verdadeiro Filho do Homem poderia ter pronunciado aquelas três palavras simples: “Sei só isso”. Ficámos a olhar um para o outro, nem tínhamos dado por que os anjos se tinham retirado já, e a partir dessa hora, pela palavra e pelo silêncio, pela noite e pelo dia, pelo sol e pela lua, pela presença e pela ausência, comecei a dizer a Jesus quem eu era, e ainda me faltava muito para chegar ao fundo de mim mesma quando o mataram. Sou Maria de Magdala e amei. Não há mais nada para dizer."



quinta-feira, 23 de julho de 2009

Hoje é dia da minha Maria Bonita.


Para homenageá-la vou deixar uma música que escutei ontem e que muito me fez pensar nela, em tudo que somos e edificamos para nós.

Além do niver dela, hoje fazem cinco anos que ela se apaixonou por mim, então é dia de comemoração.


Love Will Show You Everything
Jennifer Love Hewitt

Today, today I bet my life

You have no ideaWhat

I feel inside

Don't, be afraid to let it show

For you'll never know

If you let it out

I love youYou love me

Take this gift and don't ask why

Cause if you will let me

I'll take what scares you

Hold it deep inside

And if you ask me why I'm with you

And why I'll never

Leave

Love will show you everything

One day

When youth is just a memory

I know you'll be standing right next to meI

love youYou love me

Take this gift and don't ask why

Cause if you will let me

I'll take what scares you

Hold it deep inside

And if you ask me why

I'm with you

And why I'll never

Leave

My love will show you everything

My love will show you everything

My love will show you everything

Our love will show us everything



Para você, que amo um tiquinho de nada.

sábado, 18 de julho de 2009

O que valorizo diariamente.

Vejo, ouço, canto, imagino, sonho, idealizo, materializo, luto, defendo, me alimento, respiro, vivo e sobrevivo. Eis o que me compõe com ternura.

Sra. Estefane Gaspar Lima diz:
sabe o que eu acho: que a gente deveria ter tempo pra se ver como namoradas e amigas, porque assim teríamos que estar mais juntas
Sra. Estefane Gaspar Lima diz:
hihihihihi
Jéssica diz:
Sra. Estefane Gaspar Lima diz:
o que vc acha?
Jéssica diz:
é o ideal!
Jéssica diz:
lindo seu comentário...

sábado, 11 de julho de 2009

O papel da mídia na crise moral que se faz presente na sociedade contemporânea.



E é possível ver a sociedade contemporânea sem a mídia? O ato de anunciar, ou seja, incutir valores falaciosos ou materiais ao que se pretende vender ou trocar é inerente às relações humanas. No entanto, a simples barganha ganhou muitas complexidades e tornou-se componente estruturante do atual locus social.
O "vender o peixe" do passado ganhou um centro formalizador, a mídia. O seu ofício é vender tudo, desde produtos de beleza e alimentos, à regras de comportamento, opinião e sentimentos, o que fez com que ela garantisse espaço na vida de milhares de cidadãos do mundo, salvo aqueles que não podem consumir, os que vivem em condições de miséria.
O nascimento e desenvolvimento do que hoje conhecemos como mídia é indissociável do surgimento e da consolidação do capitalismo como sistema econômico e social. Através dele e dentro dele conhecemos uma espécie de laicização material das relações sociais, leia-se afrouxamento dos laços de solidariedade entre os humanos, em prol de objetivos de consumo e de auto-promoção social. Não que antes do capitalismo não existisse a disputa por distinção entre os homens, mas a sociedade contemporânea pariu , de forma sui generis, a capitalização desse sentimentos.
É nesse interím que a mídia se fez valer dando forma ao que conhecemos como propaganda. Com um formato que parece evoluir consoante a história do desenvolvimento científico da humanidade, a mídia e a propaganda, seu principal veículo, encorporam e propalam cotidianamente discursos ditos imparciais, todavia, denunciantes de um situacionismo de classe, em favor dos mais abastados socialmente.
O seu conteúdo revela o desinteresse em informar e suscitar a reflexão crítica do público. Notícias em forma de rapsódias nos são transmitidas nos jornais diariamente sem que possamos estabelecer conecções entre a nossa realidade, os acontecimentos locais e mundiais e os processos históricos que nos movem; tudo em favor da desinformação, do acanhamento individual, por meio do medo da violência divulgada massivamente, e do imobilismo político e social.
Repensar o papel da mídia nas crises pelas quais passa a humanidade é ponto de partida para se dá cabo de uma novo concepção de sociedade, mais humanizada, onde seus componentes sejam mais politizados e menos atomizantes, e que reflita de forma responsável sobre o consumismo e os seus desdobramentos no planeta. A mídia está em toda parte e pode ser um instrumento efetivamente benéfico para humanidade se se livrar da padronização e dar lugar à liberdade de criar, informar , questionar e, até mesmo, barganhar.