segunda-feira, 6 de abril de 2009

Salvador, cidade da alegria?


Bem, o que vejo não é muita alegria. Ela deve ter se escondido em qualquer viela, em uma favela, ou será que ela só aparece no carnaval? A terra do cosmoaxé, produto de uma miscelânea de cores, ritmos, hábitos e religiosidades afro-brasileiras parece sucumbir 359 dias por ano, já que os outros seis é só folia. Folia?! Deve ser a folia embranquecida, onde o que mais se evidencia é um cinturão de pobres e negros formando um paredão humano para proteger um miolo composto de dois carros tocando música, uma celebridade e de algumas milhares de pessoas que pagaram caro, muito caro!, para beijar, contabilizar corações conquistados em parcos minutos e, é claro, exibir-se, afinal o homem contemporâneo regojiza-se de capital sócio-simbólico, das aparências.
Mas Salvador não é só carnaval, o que vejo é uma cidade onde as contradições saltam aos olhos. A pobreza e a violência se agudizam numa proporção sem razão constante. Sem falar no isolamento cultural que o povo daqui sofre, as atrações teatrais e musicais renomadas que por aqui passam já têm público certo: a velha e bem conhecida aristocracia que outrora era colonial e que hoje é a burguesia.
Não vou esmiuçar sobre as condições precárias de transporte, habitação, saneamento básico, educação pública vergonhosa e desemprego estrural que são máximas nesta terra de gente bem receptiva, até porque, essas máximas são bem conhecidas em muitos lugares no Brasil. O que me indigna é essa exposição ultrajante e descarada de uma Salvador que sempre está sorrindo, quando não de boresta, já que a caricatura do baiano preguiçoso é bem disseminada por aí a fora.
Aqui tem gente bonita, cultura exuberante, pessoas que deselvolvem de arte à ciência, povo que trabalha e trabalha muito, contudo, o ambiente está bem habitado por políticos caudilhos que ou se aproveitam da ausência do suprimento de necessidades básicas das massas para se promoverem, ou se aliam a grupos abastados, ou não, alimentando reciprocamente o conluio da mesquinhez e dos interesses individuais.
O que me move neste momento é a perplexidade. Só para constar, nos dois últimos domingos, no final da tarde, acabei presenciando dois tiroteios, um quando voltava da casa de Ruan, após longo dia de estudo e ontem quando fui levar o Ruan até o ponto para pegar o seu ônibus. A sensação é de medo, impotência e terror. A periferia geográfica ou social de Salvador está ardendo em chamas. Chamas oriundas do esquecimento e do fingimento das lideranças públicas.
O que decidi foi não me render ao medo, mas vou reforçar a minha diligência. Outrossím, não vou em nenhum momento omitir o crescente estado de bárbarie que a cidade da alegria parece engedrar com força total. E viva o carnaval!, porque ano que vem tem mais folia.



P.S. Menin@as, perdoem a demora de postar, estou com o tempo muito corrido. Planejo mudar de área de estudo e por isso vou fazer vestibular novamente. A minha vida tem sido tomada de estudo e trabalho. Vou tentar postar com mais frequência. Abraço a tod@as!

2 comentários:

Aprediz disse...

Fanny!! Serei breve e preciso. O conteúdo do seu texto é tristemente genial. Acredito que, através do texto, subentende-se os porquês do adjetivos utilizados. Deixo aqui a tristeza em ter que elogiar o tema escolhido, uma vez que o ideal é que não haja situações como as que você viveu.
Continuarei esta conversa no seu orkut...você entenderá o motivo. Forte abraço!! =)

Lana disse...

Ah! Eu continuo achando que são os diferentes olhares que determinam o cenário.
Sem OBVIAMENTE alienação nenhuma (até pq, como assistente social, não tenho o privilégio dos 'ignorantes sociais'.. que desconhecem e por isso não se indignam)
A verdade é que, sim, vivemos na sombra da contradição que a letra traz "de um lado esse carnaval, de outro a fome total"..
Mas quando li seu texto crítico e brilhante me veio a cabeça uma cidade ainda linda.
Mesmo com o sangue da história impregnada nas ruas, mesmo com toda a violência (de que metrópole alguma está livre hj), mesmo com o cheiro ruim de esgoto que me marcou da última vez, vez ou outra quando pude abrir os vidros que o medo fecharam...
Não é nada disso que me vem a cabeça.
Me vem a imagem de pessoas que conheci que estranhamente tinham fé, pessoas que se impregnam diariamente de vontade, de alegria, de esforço.

Sei não, tive bons encontros por aí.

Ps: E o carnaval acho ruim demais.. Ruas sujas, cheiaaaaaaaaaaasssssssss e perigosas.. Mas Ivete de pertinho foi tudo pra mim!